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sábado, 1 de maio de 2010

Nostalgia Construcionista

Ainda há pouco constatei, que péssimo poeta sou.
Como posso falar de amores, dos quais não aprecio?
Como posso lidar com as dores,
se delas não quero a parcela.
Não te enganeis, leitor avulso de minhas paixões intermitentes.
Sou frívolo, inconsistente.

Amo, como deveras teria de o ser.
Mas amo às avessas. Amo aos reveses,
costurando tortuosamente os encantos.
Não amo comum, como pirulito de chocolate no jardim da infância.
Sou mais o suculento lanche noturno, evasivo
após assaltar a geladeira.

Ah, como queria que o arroz arremessado sobre cabeças fizesse um dia parte de minha sina.
De que vale o sim ao falso beato?
Vale tal qual o sonho - que de fato me esvai insolente.

Estou doente, sabe?
Sinto que de tudo o que propus um dia, nada permanece.
Sinto que - tal qual o desenlace dos últimos dias - tudo irá mudar.
E fenecerão todos os dias, pela dor latente.
Latente tal qual o crepúsculo do amanhecer.
Como quisera, poder ouvir o som do vento uma vez mais.
Também pudera, não sou nada além de um eu-lírico dopado.
Dopado de angústias.
Ensopado de lágrimas.

O tempo passa e percebo que nada pode ser previsto,
revisto, reescrito.
Nada pode ser planejado - pois tudo pode acontecer.
De que valem os anos, se em dias tudo pode desaparecer?

Quisera deixar de exprimir meias verdades a cada instante.
Não me suplique a mentira - pois também não conseguirei reescrever a verdade.
Piedade? Não terei, pois também não terão para comigo os instantes...

Apenas sei que, nostálgico ou não:
o amanhã ainda existirá.

E, se por ventura em um deles eu já não mais confirmar minha presença.
Também a ausência não se sentirá...

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