Ainda há pouco constatei, que péssimo poeta sou.
Como posso falar de amores, dos quais não aprecio?
Como posso lidar com as dores,
se delas não quero a parcela.
Não te enganeis, leitor avulso de minhas paixões intermitentes.
Sou frívolo, inconsistente.
Amo, como deveras teria de o ser.
Mas amo às avessas. Amo aos reveses,
costurando tortuosamente os encantos.
Não amo comum, como pirulito de chocolate no jardim da infância.
Sou mais o suculento lanche noturno, evasivo
após assaltar a geladeira.
Ah, como queria que o arroz arremessado sobre cabeças fizesse um dia parte de minha sina.
De que vale o sim ao falso beato?
Vale tal qual o sonho - que de fato me esvai insolente.
Estou doente, sabe?
Sinto que de tudo o que propus um dia, nada permanece.
Sinto que - tal qual o desenlace dos últimos dias - tudo irá mudar.
E fenecerão todos os dias, pela dor latente.
Latente tal qual o crepúsculo do amanhecer.
Como quisera, poder ouvir o som do vento uma vez mais.
Também pudera, não sou nada além de um eu-lírico dopado.
Dopado de angústias.
Ensopado de lágrimas.
O tempo passa e percebo que nada pode ser previsto,
revisto, reescrito.
Nada pode ser planejado - pois tudo pode acontecer.
De que valem os anos, se em dias tudo pode desaparecer?
Quisera deixar de exprimir meias verdades a cada instante.
Não me suplique a mentira - pois também não conseguirei reescrever a verdade.
Piedade? Não terei, pois também não terão para comigo os instantes...
Apenas sei que, nostálgico ou não:
o amanhã ainda existirá.
E, se por ventura em um deles eu já não mais confirmar minha presença.
Também a ausência não se sentirá...
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