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sábado, 21 de agosto de 2010

Preços

Percebi, há certo tempo, que tudo tem o seu preço.
Mas que as idéias podem não estar à venda.
As pessoas não contemplam os objetos, também não deveriam ser vendáveis.
Mas há aqueles cuja ambição sobrepõe os valores.
Pobres destes, que apenas entenderão o grande erro, depois de muito sofrimento.
Àqueles que vendem suas idéia, corrompem sua identidade e assentam mentira nas bases de sua existência...
Apenas um sopro do vento, desedifica toda uma eternidade.

A vida

Sempre haverá duas maneiras de ver a vida:
pela sua beleza ou por seus espinhos.
A grande vantagem nesta magnífica verdade, é que apenas tu poderás escolher.
O que preferes ver?
Qual preferes enfrentar?
A beleza tem suas responsabilidades.
Por outra forma, os espinhos promovem grandes feridas.

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Ciúmes

Machado deixou a maior dúvida do Romantismo.
Seria Bentinho certo, ao sentir-se traído?
Ou as tranças de Capitu corromperam sua doce inocência?
A verdade é que a vida real sempre imita a arte, e o ciúme destrói tudo que lhe faça parte.
Sangue sempre corre em prol da justiceira verdade, infundada em consequências.
Sempre há um caminho alternativo, por mais distante que pareça.
Não olheis os amores como trechos para reserva.
Entendei como oportunidades para afastar a treva.

Ventos do Leste

Olhai os ventos do leste.
Eles simplesmente ventam.
Entendei que nas simples coisas, residem as complexas verdades.
Nas partículas do vento são destribuídos os sonhos soprados de longe.
Acolhei com a mente tais memórias, para mudar a realidade.

Lembrança

Edificarei uma lembrança, mas não tenho onde fazê-lo.
Tudo é tão passageiro, que não convém marcar.
Farei melhor que tudo disso, deixarei para o futuro.
Nestas linhas inconfundíveis, podereis me encontrar.
A lembrança que aqui deixo, são dos anos não vividos.
Das palavras não ditas, dos desejos não realizados.
Pois tudo o que não foi, bem que poderia... num universo paralelo.
Acontece que nem tudo significa, o significado que atribuiu-se.
As lembranças que não foram, sempre são de maior valia.
Acontece que nesta fantasia, esquecemos as verdadeiras...

Basta Limpar

Não toqueis neste telescópio, pois não verás estrelas.
Ele está borrado da gordura ensebada dos olhos humanos.
Com ele apenas verá borrões, manchas iluminada.
Usai a manga de sua camisa, para permitir retirar as impurezas.
Quisera que também o julgamento das almas permitisse tal tratamento.
E no final de contas, tenha certeza que permite.
Ao contemplar a verdadeira história, tudo sempre faz mais sentido.
Por mais obscuro que se apresente...

Verdades inteiras e parceladas...

Eis que o concretismo desconstruiu minha trajetória.
Não me olheis como falso profeta, tampouco como conselheiro insano.
Sou apenas um ourives de palavras, cuja classe literária é um engano.
Preferi seguir caminhos não tão concisos.
Optei por curvas perigosas.
Sobrevivi até o presente, ausente de minhas responsabilidades.
Mas ainda consigo proferir meias verdades.
Acontece que as inteiras prefiro manter na gaveta da consciência.
Existem momentos nas quais podem vir a ser mais do que necessárias.

Puberdade do Caráter

Se, por hora o mal me atormenta a escrita.
Não te assustes, leitor incrédulo.
O dito pelo não dito talvez fizesse maior sentido, mas não descreveria a verdade.
Certamente que não poderia dizer aquilo que não penso.
Ou talvez não pudesse respirar o gélido ar quente, baforejado ao adentrar a madrugada.
Frio tal qual o gelo, mas ressecado tal qual o sol do meio dia.
Somos tão opostos e instáveis, que a alma humana não se aquieta.
Queremos sempre mais, além do que poderíamos.
Não necessitas fingir que não és como deveras pensas. Pois o julgamento que fazes de ti é a verdadeira forma pela qual te manifestas.
Estais aqui por uma razão, unicamente.
Lá, no fundo deste âmago que sustenta tu sabeis melhor que ninguém esta resposta.
Não eviteis a dor, mas construa pontos para sua lembrança.
É o calor quem permite a transformação do metal em instrumento.

Dores da Vida

O suor informe penetra as narinas ferrozmente.
O enjoo do fado que faz pesar o cérebro.
Doem os seios da face e as têmporas instáveis.
E, assediado pela dor carnal, o sangue ferve.
A impaciência excita a incerteza de estar além das possibilidades.
Como poderia deixar de contemplar a beleza do horizonte?
Ainda que me gotejem fluídos sanguíneos pelas narinas, não o deixaria.
A vida é tal qual se pinta: mas além dos fatos.
Santa arrogância que nos contempla, com seus lábios formando o riso de criança.
Somos perfeitamente desligados das lembranças.
As sensações sutis de dor, pavor e medo alucinam.
Mas tudo passa. O fim mortifica, mas a alma multiplica.

Suicídio e Temores

Escorrem por entre os dedos e impregnam as unhas o fétido odor do sangue.
A morte contempla a beleza da existência além da vida.
Além do norte, o mais profundo.
A beleza profana da carne ungida de vermelho.
Ao suicida, pelo que parece resta a inexistência.
Obsoleto.
Incerto.
Se houver o inferno, lhe caberá acolá um lugar reservado.
Mas se caso não houver, como receia este poeta...
Ah, neste caso haverá a eternidade e, o mesmo voltará.
E voltará, e talvez volte novamente.
E quantas vezes necessário o for, em prol de geminar uma boa semente.
Se houvesse apenas uma oportunidade, certamente que eu temeria.
E como temeria...

sábado, 14 de agosto de 2010

"Pós"

Não desnudarei a doce pele do amor.
Mas também ele um dia envelhecerá: seus tecidos estarão enrugados, envolvidos com a idade que me pesar.
Se talvez, por obra do inconstante tempo de viver, os olhos me fechar:
Entenderei que meu tempo se esgotou, mas não poderei simplesmente aceitar.
Como entender que não há além?
Que não há aquém, para o que ou para quem?
Seríamos o reunido pó, que ao pó voltará? Tão simples assim?
Se assim o fosse, nada demais haveria em nada fazer ou por nada lutar.
Mas se não buscarmos o pão de cada dia, a luz de cada manhã, o cheiro do orvalho ou o brilho dos olhares... ah, se não o fosse assim!
Ainda que eu entendesse os sopros divinos, jamais poderia deixar de aceitar.
Aceitar que há sim o mais um pouco.
Um pouco de mais e mais...
Olhe adiante, perceba que somos apenas parte do pó. Mas que depois do pó, seremos o fermento!

Palavras ao vento

São com as pedras recolhidas no caminho que tecerei a muralha do tempo.
E se ao fechar os olhos o fim chegar, não temeis: pois o fim nada mais é do que o recomeço.
Sigamos juntos a lugar algum, sentindo o cheiro das flores.
Não há tempo certo para a vida, tampouco para seu fim.
Mas também pudera, nada direi que possas me não compreender.
O vento soa tal qual ópera sinistra, mas encanta o coração.
Aguardeis que voltarei, de onde quer que eu esteja.
Para onde quer que eu vá.
Não deixarei de pensar, sequer um segundo. Pois a razão é o único bem que poderei deixar - sem jamais dele me esquivar.

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Encenação

Pararei de buscar razões, quando o que na verdade mais quero são condições.
Minha mania de sensatez dói, faz com que meus ossos sintam o fervilhar de emoções complexas.

Vivo o paradoxo da escrita. Não quero escrever, mas as palavras insistem em sair.

Fogem ao meu controle - como aves de rapina que saem em vôo. Seguem seus próprios caminhos, sem questionar qual caminho seguir.

Se é que tem uma rota. Rotas estão sem sentido ou direção estabelecida.

E a estilística dirá que não passa de estilo. Consideração ou marca que me atribua. Mas na vida não teriam tais facilidades.

Se vida for tema recorrente. Não frequenteis minhas idéias. O sentido de tudo é o ápice, o final e grande momento: o desfecho da peça.

E, quando do desfecho e fechamento da cortina - me procureis: no camarim da existência.

Caleidoscópio Psíquico

Acredito que eu posso pedir que se retire dos meus pensamentos.
Mas jamais poderia pedir que se retire de minha história.
A grande marca do tatuador do tempo, é a linha do tempo.
Por mais que as escolhas mudem o futuro, não retornam ao passado.
Não destroem a infra-estrutura básica produzida inconsequentemente.
Tal qual o político que superfatura obras em bem público, também somos corruptos ao nos permitirmos situações indesejosas.
Receosos estaremos após entendermos que o bem e o mal são situações inusitadas.
Limitaremos as verdades com o tempo, mas ao momento aquilo que realmente conta não importa - não faria falta, tampouco diferença.
Construímos pontes entre pessoas, com fins banais e interessíveis.
Crentes ou não da importância das relações, focamos os bens e não as pessoas.
Bens ou riquezas, grandezas ou pequenas coisas.
O que realmente importa não é o ter, mas o entender e o ser.
E se tudo há, quase nada podereis haver.
Existir é dolorível. Temeroso.
Tempos díficieis, como já disseste Einsten.
Torna-se mais fácil progredir no pensamento, do que nas razões de grande ordem.

Pacientes

Eis que aqui estou. Cá com os dizeres de sentinela.
A guardar as verossímeis verdades em absoluto.
A construmentar o consagrado início dos tempos.
Atento ao não ser mais do que pudermos evitar. De um orgulho de que não podeis gozar e tampouco se permitir.
A vaidade em vida é tal qual a flor: ao cair da tarde murcha e não tem mais valor.
Toda beleza aparente é sem sal. Tempestiva e inconstante.
Mas toda casca não deixa de ser apenas uma fina película, cujo recheio é de além-dor reconhecida.
Não saberia dizer o que penso, enquanto poeta incompreensível.
Tampouco o saberei em momento algum. O tempo é a escada dos afoitos.
Mas os degraus não se encontram onde deveriam, nem em parte curta do mesmo.
E se não há pontos de chegada, tampouco haverão de partida.
Não há lugar algum, apenas imagens criadas na psique humana.
Eis o grande sentido da inexistência existencialista: vivemos em um grande hospital psiquiátrico!

Devaneios de Cruzamento

Se faz crescente, na pequena alma do poeta, a vontade do vir a ser.
Ser aquele que faz a diferença, ou que traga a diferença.
Ser dos poucos que veem no horizonte as razões para seguir em frente.
Ser apenas. No sentido de existir.
E acertar, acertar e acertar - mil vezes e sem razões aparentes.
E se o caminho estiver inconcluso? Obtuso, entusiasto... fantástico que somente ele poderia estar?
Não há motivos para lágrimas, rebuliços ou intempestividades.
Caso não haja caminho possível, impossível não o será.
E basta seguir enveredado na serenidade pós-humana, que tudo ao fim termina pronto.
O frenético ponteiro do tempo passado já não mais move as fases da lua.
Crua como a carne exposta no entrecortado fio de luz.
Goteja como o orvalho o sangue escurecido, pelo ferro que lhe representa o íon presente.
Aparentemente, o tempo e a vida são apenas o que são. Mas nada é apenas o que aparenta ser. Nem jamais será.
Que alívio.