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sexta-feira, 25 de junho de 2010

Partida

O relógio é o inimigo do prazer de vida.
Passam os minutos quando não queremos, reservam-se quando aguardamos!
Caminharei por entre seus vazios, a fim de tomar o ônibus noturno.
No caminho verei a penumbra, vazia e calada.
E no suave vento entenderei das necessidades sobresalientes.
Eis que irei, antes que nada mais possa fazer.
Voltarei em breve, ao recanto doméstico para me refazer.
Eis que somente assim, o ciclo permanece!

Poeta à Amélia...

Como já dissera a musa de muitos poetas, todo poeta tem não somente uma, mas muitas musas e inspirações.
E se para as poetizas pode não existir musa, mas um cavalheiro anônimo. Nada impede às contradições.
Afinal, o mundo é resultado de contradições que se confirmam.
E, até certo ponto de certezas que se contradizem.
As verdades poéticas são ininteligíveis aos ouvidos desatentos e, o mundo ao seu redor nada mais pode construir que os dividendos errantes de uma economia paupérrima.
E tendo a chaga da existência por curar no horizonte, aos solitários poetas resta a vida de Amélia, para muitos aterrorizante.
A comida não se faz por vontade própria, as roupas não se lavam espontaneamente.
A vida é como a corrente, ligada aos trancos.
Entrecortada aos barrancos.
Doce vida, como fel orvalhando um girassol.
Existimos em prol das oportunidades!

Assalto!

Eis que a voz de um meliante me pede os pertences, na penumbra e escura noite vagueante.
Mas nada terei de posses para te conceder forçadamente.
Serviriam meus sonhos como bem satisfatório?

Não me olheis com olhos de revolta insurgente.
São sonhos, mas não esnobeis e entendeis de má valia.
Custaram-me os anos, as escolhas e decepções.
Mas já renderam muitas das alegrias conquistadas!

sábado, 19 de junho de 2010

Expressão Heteronímica

Há um outro eu dentro de mim mesmo.
E este não me é conhecido, adormecido em suas reflexões e questionamentos.
Eu não sei viver sem este outro de mim.
Mas tampouco sei viver com sua presença.
Há uma divisão heteronímica em mim e, não sou Pessoa para suportar.
Não se trata de metafísica, tampouco de reação química.
Mas as personalidades reagem ao entrar em contato.
E das explosões surgem novas idéias.
Novas barreiras se constroem e novos caminhos emergem.
Não sei onde irei com tais dúvidas nesta relação.
Se eu quero atravessar o horizonte, outro eu quer nada além.
Aquém de qualquer sentimento, há a razão.
E por entre a razão as emoções.
Perdões.
Insatisfações.
Exatidões.
Expressões.
Assim não sei se sou o que sou, ou se sou o que sei.
Não importa mais, apenas nada saberei ou compreenderei.

Puberdade Adulta

Receio contar que, este poeta que vos escreve sofre de um grande mal.
Mal este que lhe torna instável e descontrolado: puberdade adulta.
O tempo passou, mas os anos regridem.
As folhas retomam os galhos da árvore do tempo.
Os desejos se desencontram da razão.
Os receios já não mais estão delineados. A coragem excessiva se interpõe aos dias.
E as palavras já não saem, mas rasgam o ar embaladas de emoção.
Os beijos deveriam estar mais vorazes, a carne mais suscetível aos imprevistos.
E talvez também o estejam.
Sintam o rasgar do sopro sobre a pele a arrepiar-lhes os pelos.
Ah, como poderia eu uma vez mais me adolescentar?

Ribeirão Preto, 154 Anos

Cidade que me acolheu, quando o mundo me estranhou.
Onde a maturidade chegou e se esvai quando preciso.
Onde o por do sol é sincero, tal qual o amanhecer.
Por onde caminho, dia e noite sem nada temer.
Cujos frutos estou a colher, cujas ruas tenho percorrido.
Onde o sonho apenas começou.
Crescente, delirante e jovem.
Ribeirão Preto é como já o disseram, a Califórnia Brasileira.
No semblante das pessoas há esperanças: verdades, ousadias.
E desafios, diários e enlouquecedores.
E nesta nova primavera de sua existência, qualquer fala que use não exprimirá seu significado por completo.
Em seu reto e tortuoso caminho, ainda temos muito por construir: juntos.

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Identidade

Se de repente me calei, não ousais perguntar.
Se quissesses a resposta, não pronunciaria de fato a resposta.
Foi o uso e desuso, a vida e a morte, o acaso e o além das letras que, tecidos tal qual a rede aracnídea fundamentaram minhas decisões.
E não será de saliva que dissolverá os fios.
Tampouco terás força para destruir o indestrutível nó.
Estou a postos para as verdades. De pé frente as insurreições. Fechado para com seus olhares.
Não ouseis. Não provoques. Deixai que o tempo cicatrize, cauterize, recorte.
E que cole tal qual uma peça da arte do amor: como o caleidoscópio, entendei que sou assim: às vezes muito além, outras apenas alguém.
Não entenda minha inconstante verdade como única. Não sou eu, quando o sou. Mas quando não for, assim serei.

quinta-feira, 3 de junho de 2010

Talvez...

Talvez eu pudesse falar do momento, escrever sem rumo um novo poema.
Ou talvez eu pudesse simplesmente deixar de lado este desejo e abrir a janela, apreciar a rua e o vento gélido desta noite.
Mas se eu fizesse o que fosse, não teria graça.
Não teria verdade.
Não teria desejo.
Teria o importunamento de levantar-me deste edredon aquecido.
Por isso digo, nada posso.
Não poderei e tenho raiva de quem pense o contrário.
Só posso virar para o lado e dormir, que me é de direito!

Os amores também acabam

Como gostaria que os amores não se acabassem.
Talvez que se imortalizassem, feito os grandes feitos da humanidade.
Mas o amor é tão sutil, sensível e fraco.
Não necessita de nada além do que um simples sopro acentuado.
Vive de sentimentos puros, limpos e verdadeiros.
E quando faltam alguns destes reagentes, nada mais é sintetizado.
E não adianta usar de catalizadores falsos.
Tampouco funciona recorrer ao esparadrapo.
Feridas fundas não cicatrizam em uma noite de repouso.

E quando por fim tudo se acaba, apenas recomeça um novo caminho.
Não é apenas uma a paixão da vida. Mas as escolhas definem a profundidade.

Incertezas

Fechai as mãos em formato de concha e não olheis por entre os dedos.
Em vossas mãos há o dom da vida, o ar que respiras.
O mesmo ar que poluis, que sem perceber deixas de valorizar.
Somente quando tu compreenderes a verdade deste fato, terás um futuro.
Até então, existem apenas as incertezas.

Diálogo com o Leitor

Entendei este poeta que vos clama.
Não fazeis de mim instrumento para vossos amores.
Tampouco me procureis tão somente para aliviar vossos dissabores.
Não sou consolo, tampouco amigo.
Sou o palavreador dos tempos, cortando caminho por entre os dias.
Se respirades do mesmo ar que me sustento, entenderás que nem tudo o pensamento compreende.
Talvez nem mesmo os amores contemplem as maiores verdades.

E se o poeta não acreditasse no amor?
Poderia ser acusado de falso poeta, ou de insensível?
Apenas entenda, caro amigo leitor de minha poesia,
não sou um livro. Não tenho respostas.
Não sou o norte, tampouco o sul.
Em outras palavras o que sou é o centro, o começo, a nascente.
Sou intransigente e expressivo.
Sou dos que olham ao longe e entendem: é apenas o início.

Orquestra

O maestro estralou os dedos!
Principia-se o espetáculo.

Agita suavemente as mãos e entoa a melodia o grande corpo da orquestra.
E os jovens cantores, liberam suas vozes em coral de forma tão eloquente.

A cada desnível, a cada crescente vocal, os violinos acompanham apaixonadamente.

O som preenche, compreende, respira.

O som penetra, entende e comunica.

O som vive, como deveras lhe compete.

Pois apenas com o som, as palavras se completam.

E a letra não importa, a verdade não está à própria sorte.

O som combina, conjuga e corrompe.

E quando termina, aos ouvidos atentos apenas fica: o sombrio silêncio no horizonte.

Esquecimentos

Esqueci de dizer o que deveras tinha que ter dito.
Palavras esquecidas uma só vez, mudam pra sempre o curso dos fatos.

Fazem o hiato entre as verdades. Omitem as placas do caminho.
Mas podem ainda que tarde, acabar sendo proferidas.

Mas nada direi, nada sei.
Apenas não me lembro.
Talvez por conta do que já me esqueço.

E se o esqueci, como posso lembrar que não lembrei?

Lembranças inconstantes e inconscientes.
Inconsequência imatura e pueril deste poeta...

Noite fria

Caíram as trevas da noite.
Está frio, o vento corta as ruas com o chiar dolorido de sua passagem.
E cá estou eu, tomando meu copo de leite e comendo biscoitos.

Mas biscoitos acabam. O leite termina.
Nada me resta em uma noite fria, a não ser o edredon amigo.
Nada me basta além da minha própria sorte, do que meu próprio sono.

Se não há remédio para tal fato, abraçarei o travesseiro.
Passe bem.