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sexta-feira, 25 de dezembro de 2015

Uma ocasião psicologicamente reprovável

É dia festivo. As luzes piscantes informam, com seu ritmado movimento.
Uma multidão me cerca e, no fundo, percebo que são mais pessoas que eu poderia contar.
Todos sorriem. Todos se embriagam com a emoção e com o líquido dos prazeres.

Os odores que exalam da ceia são encantadores, os sabores dignos de um grande banquete.
No entanto, toda a decoração, preparo e agitação não mudam o triste fato.

Não importa quantos estão lá fora, quando percebo o triste vazio em meio peito.
De nada compensa tanto calor, quando internamente o frio é mortal.

A verdade é que a porta dos sentimentos não está tão bem trancada. 
Talvez seja por conta da ocasião, onde há muito latente na superfície.
Talvez seja apenas pelo fato de que, nestas datas, as crianças costumam dizer o que apenas pensam os adultos.

Quisera que fosse apenas o efeito daquele líquido atrás do qual as pessoas se escondem.
Mas não o é.

As bolhas efervescentes nas taças consomem, uma a uma, as energias da noite.
O sorriso vai se tornando forçado. Os espaços vão te tornando menores.

E quando mergulho de cabeça, esparrama-se na água todas as amarras, todos os receios. 
Largo o escudo e a espada à margem.

E neste momento, tocam os sinos: ocorreu o ataque.

As feridas de uma simples data serão um grande e novo desafio.

quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

cheio de nós

Há momentos em que não nos basta olhar pra frente e pensar no futuro.
As dores são tão grandes, as feridas encontram-se tão abertas, a chuva parece machucar tanto.
Nestes momentos, caro leitor, o poeta faz poesia.
E nas entrelinhas, espremido, fica o sentimento.
O mal do poeta é que ele vive intensamente, cada sensação, cada desventura.
Alguns aprendem tanto a apreciar tal tortura, que quando deveriam viver o calor das paixões e dos amores, não sabem desfrutá-lo.

terça-feira, 22 de setembro de 2015

Aparentemente, mas não me engana

Não quero abrir às janelas, não por hoje.
Sei que há um mundo frio e tenebroso lá fora, e não quero vê-lo, apenas por hoje.

Não me importa que estejamos com um escaldante sol, tampouco que tenhamos pessoas pulando em piscinas e se divertindo com a refrescante sensação de um inverno com ares de verão.

O mundo lá fora pode ser, independente dos disfarces, frio e tenebroso.

terça-feira, 9 de junho de 2015

incoerências

Por diversas vezes procurei respostas, estranhamente para perguntas que nem existiam.
Retirei o vazio que preenchia meus pensamentos, tão somente para evitá-lo.
Enxuguei lágrimas, quando o ideal era deixar que elas rolassem.

Por tantas vezes, escutei o ruído da loucura.
Arranhei no vento os devaneios de minha estória.
Murmurei pedidos que jamais seriam ouvidos.

E, então, por mais e mais vezes, tão somente perdi o tempo que tinha.
Tempo gasto, desperdiçado... À espera de que eu fosse visto, mas, na penumbra de minha timidez, foi apenas isso: espera...

E no auge da falta de razão...
Brindei conquistas com cálices preenchidos de nada.
Tropecei em acasos que não fizeram nenhum sentido.
Debrucei sobre causas sem sabor, sem significado, sem estranhar minhas ironias.

E então, agora eu percebo, que farei de novo. E uma vez mais.
Talvez outra.

(Tamanha estupidez essa minha!)

Insistirei em viver pela metade, em me cobrar as coisas erradas, em esperar demais dos outros e de mim mesmo.
Postergarei aquele regime, aquele exercício, aquela caminhada, aquele amor.
E quando colocar meus cabelos úmidos no travesseiro, novamente estarei me deliciando com minhas incoerências.

Na espera de que amanhã será um novo dia. Com novas chances de repetir todas estas inconstâncias.

...

Continuarei errando,

                             porque sou frágil, sou intenso,
                                                          sou estupidamente:


                                               Humano.

segunda-feira, 6 de abril de 2015

devaneios de um poeta (in)existente

Ainda que eu provasse do fruto proibido, pouco teria a dizer sobre tal fato.
Tampouco se bebesse do cálice da intensa loucura, poderia enredar pelo discurso demagógico de tardes de outono.
Mas, ao sentir o leve toque das dores de uma escura noite, gelado tal qual liga metálica exposta ao frio, não me compete deixar de suspirar.
Tantos "se"s, tantas linhas não utilizadas na aurora da juventude, que sequer posso ligar tantos desencontros.
Parece apenas mais uma noite confusa de pensamentos, imerso em sentimentos descontrolados, no entanto, é uma noite crucial para a construção de devaneios.
Nada especial, quando todas as noites se apresentam como ímpares para tal profusão de enredos.
O poeta pode não dizer, não retribuir, não (des)construir uma escrita.
Mas os versos em formato de prosa, cadentes de estilística e sedentos de caligrafia, saem rotos e deformados.
E, assim, insensivelmente, corre o tempo sem que o poeta cumpra com seu mais insensato dever: existir.

segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

amargo

Um poeta não vive de parênteses.
Uma flor não nasce dentro de uma redoma sem ar.
Um coração não se alimenta quando está deprimido.
Então que tenhamos mais reticências, adubo e amores para que a vida seja mais doce.

quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

na contramão

Os barulhos que por hora escuto são a dependência crônica da tecnologia.
Não há mais que se pensar.
Não há mais que se questionar.
As telas luminosas tudo sabem, tudo entendem e tudo compreendem.
Estamos entrando numa era de (in)evolução: os jovens não querem mais aprender a ser, quando ter é mais importante.

crítica anti-poética

Não só de falácias vivem os homens.
Mas de toda e qualquer evidência a favor de suas mentiras.
Talvez por isso a humanidade venha perdendo, a cada dia, sua credibilidade.
Os meios de comunicação se corrompem aos interesses escusos daqueles que lhe ignoram.
As massas, espremidas tal qual batata para constituir um purê, estão alheias ao certo e ao errado.
Não zombar, não atirar a primeira pedra, torna-se um pecado.
Há tempos o evangelho está corrompido.
Lastimável, tal qual a falta de chuva e por consequente o esgotamento do mais precioso recurso natural para a sobrevivência.