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domingo, 27 de março de 2011

Perdoe

Perdoe os desabafos, mas a lágrima que rasga minha face neste momento é mais simbólica que sólida.
Poderia não me incomodar com todo o universo, contudo seria impossível não suspirar perante sua indiferença recíproca.
Não vale um único vintém o sabor de uma vida insossa.
Tal qual o sabor de papelão aguado pela chuva.

Sem sentido

Acreditei nas suas idéias, teci planos em favor de seus pensamentos.
Escorri o suor e o sangue que podia em favor de realizações por entre os vãos deste vazio da humanidade.
Mas não adianta não ver que ele existe.
Inócuo, insensato, frio e escuro.
Ausência unica, que me fez deixar de entregar o que podia.
Que me fez deixar de ser o que sou.
Que não me permitiu sequer entender as razões desmedidas e findas de meu pensamento.

Devaneios íntimos

Foi na luz de um sorriso que me encontrei: encantado e praticamente pensativo.
Foram nas palavras e gestos que me concentrei.
E o que me resta é aguardar.
O tempo pode não ser o melhor remédio para os enfermos, mas é a melhor razão para os sentidos.
Apenas posso esperar que ao por do sol tenha a vossa presença!

sábado, 26 de março de 2011

O que há de mim em mim mesmo

Às vezes tenho medo de ser eu mesmo.
Talvez o grande problema nisso tudo seja que já me acostumei comigo, quando na verdade os outros apenas acostumaram-se consigo.
Sou a piada constante, escrita em letras garrafais e com ar de deboche.
Posso ser o bom moço, mas também sou o vilão.
Sou o sonho vivido a sério, tal qual o pesadelo levado na esportiva.
E se me encontrar por aí, procure puxar conversar.
Lamento apenas não tecer melhores contatos.

Reencontro

Pra ser sincero, esperei que tocasse no assunto.
Não pela necessidade ou importância, mas pelo oposto disso.
Esperei que nossos olhares novamente se cruzassem.
Que nossas mãos uma vez mais se tocassem.
Mas que tudo ocorresse de modo inocente.
Não mais puramente casual.
Que desta vez tivesses em seu pensamento a malícia dos amantes.
Mas apenas falaste.
Improvável ou não, sentimentos não existiram.

Verdades intocáveis

Tal qual o olhar clínico de um médico, o olhar cínico do poeta pode informar o estado da alma humana.
Estado deplorável ou incerto, confuso ou entreaberto, fechado por ondas de calor.
Não bastaria um abraço para nutrir sonhos?
Quando quisera apenas um, negaram-se a todos os fatos.
O carinho verdadeiro não é tão sincero quando coberto de sangue inocente.

Desistências

Poderia o poeta ouvir o som dos corações alheios e abster-se de penetrar-lhe com as palavras?
O que deveras parece um tanto quanto incerto, insosso e insensato é possível.
O poeta se abstém.
O poeta evita o conflito.
Em razão de um mundo mesquinho e descrente.
Mas o poeta é assim, tal qual um jovem sonhador.
Quando não mais acredita, tampouco insiste.

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Um novo hoje

E se ainda ontem guardado em meu peito havia um doce grito sufocado, com amarras na razão, ousarei respirar: sem receio de que ele ainda exista.
Tive minha nova oportunidade.
Giramos a roda da vida e, num nuance fascinante, tudo ocorreu.
O medo tomou coragem, tal qual o pálido se enrubesceu.
As lágrimas brotaram do desejo de respirar e dizer: vencemos.
Vitória esta calcada em pequenas batalhas, contra obscuros inimigos.
O maior desafio estava em não provar para os outros, mas para mim mesmo.
E, quando enfim as letras fizeram sentido - acredite - nada melhor do que o sonho realizado.
Sono este não sonhado de tão longa data - mas refletido e amadurecido.
Com a luz de um pensar experiente.
Não que a maturidade e experiência estejam em estado máximo, estas continuarão avançando e - com o tom inocente - terá seus retrocessos.
Mas não mais estarei pautado nas nuvens, no éter que as circunde.
A questão é que o tempo nos faz ver que o rabisco é assim: cheio de significados.

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Não me obrigues

Não me forceis a negar os sonhos que ainda tenho.
Pois caso faça, talvez os perca uma vez mais.
Já - em outro tempo que passou - os depositei em barquinhos de papel e lhes permiti que conhecessem o outro mundo.
Mas as janelas foram pintadas de preto.
Meus pensamentos não tiveram mais o direito de ver a claridade.
Pior que grades apenas o escuro, vazio e fétido.
Se por ora os sonhos não podem preencher os cantos, permita-lhes apenas que a luz lhes penetre.

Inseguro porto me que aguarda...

E perdido no meio dos meus pensamentos, o grito.
Enfurnado no lamacento mar de reprovas da vida, ondulante e insensível.
O sonhos, tal qual talismã vítreo, encontram seu fim ao tocar o chão de uma queda dolorida.
Os pequenos estilhaços de segurança, que ainda restavam, mudos e tementes, pronunciam-se para além do imaginário.
Mas tudo isso se processa nas cordas vocais imóveis.
O pensamento exige que se promovam, mas os sons não saem.
Da boca, descolorida pelo tormento humano, apenas sai um gemido.
Não griteis comigo, pois não posso responder.
Vítima ou não, já não posso revidar.
Nem posso pensar.
O ar está espesso e úmido, do medo que criei.
Bordado em duplos fios de solidão, tecido nos entremeios das omissões.
Tal qual o olhar imóvel que me resta, assim fico: ausente.