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terça-feira, 22 de setembro de 2015

Aparentemente, mas não me engana

Não quero abrir às janelas, não por hoje.
Sei que há um mundo frio e tenebroso lá fora, e não quero vê-lo, apenas por hoje.

Não me importa que estejamos com um escaldante sol, tampouco que tenhamos pessoas pulando em piscinas e se divertindo com a refrescante sensação de um inverno com ares de verão.

O mundo lá fora pode ser, independente dos disfarces, frio e tenebroso.

terça-feira, 9 de junho de 2015

incoerências

Por diversas vezes procurei respostas, estranhamente para perguntas que nem existiam.
Retirei o vazio que preenchia meus pensamentos, tão somente para evitá-lo.
Enxuguei lágrimas, quando o ideal era deixar que elas rolassem.

Por tantas vezes, escutei o ruído da loucura.
Arranhei no vento os devaneios de minha estória.
Murmurei pedidos que jamais seriam ouvidos.

E, então, por mais e mais vezes, tão somente perdi o tempo que tinha.
Tempo gasto, desperdiçado... À espera de que eu fosse visto, mas, na penumbra de minha timidez, foi apenas isso: espera...

E no auge da falta de razão...
Brindei conquistas com cálices preenchidos de nada.
Tropecei em acasos que não fizeram nenhum sentido.
Debrucei sobre causas sem sabor, sem significado, sem estranhar minhas ironias.

E então, agora eu percebo, que farei de novo. E uma vez mais.
Talvez outra.

(Tamanha estupidez essa minha!)

Insistirei em viver pela metade, em me cobrar as coisas erradas, em esperar demais dos outros e de mim mesmo.
Postergarei aquele regime, aquele exercício, aquela caminhada, aquele amor.
E quando colocar meus cabelos úmidos no travesseiro, novamente estarei me deliciando com minhas incoerências.

Na espera de que amanhã será um novo dia. Com novas chances de repetir todas estas inconstâncias.

...

Continuarei errando,

                             porque sou frágil, sou intenso,
                                                          sou estupidamente:


                                               Humano.

segunda-feira, 6 de abril de 2015

devaneios de um poeta (in)existente

Ainda que eu provasse do fruto proibido, pouco teria a dizer sobre tal fato.
Tampouco se bebesse do cálice da intensa loucura, poderia enredar pelo discurso demagógico de tardes de outono.
Mas, ao sentir o leve toque das dores de uma escura noite, gelado tal qual liga metálica exposta ao frio, não me compete deixar de suspirar.
Tantos "se"s, tantas linhas não utilizadas na aurora da juventude, que sequer posso ligar tantos desencontros.
Parece apenas mais uma noite confusa de pensamentos, imerso em sentimentos descontrolados, no entanto, é uma noite crucial para a construção de devaneios.
Nada especial, quando todas as noites se apresentam como ímpares para tal profusão de enredos.
O poeta pode não dizer, não retribuir, não (des)construir uma escrita.
Mas os versos em formato de prosa, cadentes de estilística e sedentos de caligrafia, saem rotos e deformados.
E, assim, insensivelmente, corre o tempo sem que o poeta cumpra com seu mais insensato dever: existir.

segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

amargo

Um poeta não vive de parênteses.
Uma flor não nasce dentro de uma redoma sem ar.
Um coração não se alimenta quando está deprimido.
Então que tenhamos mais reticências, adubo e amores para que a vida seja mais doce.

quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

na contramão

Os barulhos que por hora escuto são a dependência crônica da tecnologia.
Não há mais que se pensar.
Não há mais que se questionar.
As telas luminosas tudo sabem, tudo entendem e tudo compreendem.
Estamos entrando numa era de (in)evolução: os jovens não querem mais aprender a ser, quando ter é mais importante.

crítica anti-poética

Não só de falácias vivem os homens.
Mas de toda e qualquer evidência a favor de suas mentiras.
Talvez por isso a humanidade venha perdendo, a cada dia, sua credibilidade.
Os meios de comunicação se corrompem aos interesses escusos daqueles que lhe ignoram.
As massas, espremidas tal qual batata para constituir um purê, estão alheias ao certo e ao errado.
Não zombar, não atirar a primeira pedra, torna-se um pecado.
Há tempos o evangelho está corrompido.
Lastimável, tal qual a falta de chuva e por consequente o esgotamento do mais precioso recurso natural para a sobrevivência.

terça-feira, 25 de novembro de 2014

enfim chuva

O vento está úmido.
Sinto o odor de chuva recente.
Percebo, com o ar que entra em meu corpo, o sabor doce da chuva.
A sensação é de completude, de saciedade.
Espero que - dessa vez - seja uma sensação duradoura.

segunda-feira, 6 de outubro de 2014

overdose de sonhos

Por tanto olhar para o horizonte e esperar que tudo mude.
Por tanto batalhar, lutas com propósitos e perder bons amigos e guerreiros.
Por tantos dias bem vividos, em prol de sonhos de um amanhã feliz.
Por tudo isso, e também pelo tempo que consome os dias tal qual faísca em pólvora; certo momento a dosagem de esperança foi excessiva.
Já não vejo os dias coloridos, pintados pela tinta guache de minha utopia.
Tampouco percebo o cheiro perfumado do mundo, odorizado pelo perfume das rosas que plantei.
O horizonte não tem mais a beleza, encantadora das ações nas quais me envolvi, que muito me alegrava pelas manhãs.
Sim, a dosagem de esperança, objeto de vício demasiado, do qual necessitei cada dia mais e mais, foi cruelmente excessiva.
Tanto que, de tanta esperança, combatida com a impunidade e crueldade alheia, me deparei não ébrio de suas consequências.
Como quisera que assim o fosse.
De tanto esperançar, a certo tempo percebi como deveras era a terrível, torpe e insana: realidade.

sexta-feira, 18 de julho de 2014

{silêncio}

Há dias em que, mesmo o poeta, prefere se calar.
O silêncio não precisa ser absoluto.
Sua relatividade pode ser dizer algo, algumas vezes muito, sem informar absolutamente nada.

EsColhas

Tropecei.
Caí.
Foi então que percebi todas as infinitas possibilidades que a vida me oferecia.
Eu poderia ter ficado ali, no chão, ter deixado que o sangue fluísse pela sarjeta, jorrando de modo dramático e insano.
Até seria possível relatar, a quem por ventura passasse, todas as minhas desventuras e sensações.
Não poderia, no entanto, fazer coisa alguma.
Levantei, retirei o pó, procurei uma torneira para lavar os ferimentos.
Olhei para o horizonte, constatei que era um lindo dia.
Segui em frente, para novas possibilidades.